quinta-feira, 20 de agosto de 2009

On line e off line


Aproveitem para respirarem os novos ares tecnológicos agora, porque em pouco tempo terás que digitar login e senha para utilizar o oxigênio público. A cada passo que “isso” dá pra frente, tua privacidade dá um para trás.


Por aqui, tudo começou no mIRC. Alguém lembra? O mIRC era como se fosse uma rua, onde todo mundo sentava e conversava. Foi nisso que eu aderi às frases de impacto. Todo usuário tinha um nome que era registrado por segurança, e depois eu descobri um comando que mostrava a hora que esse último nome havia entrado e qual a mensagem de saída. Desde então, todas as minhas mensagens de saídas eram feitas assim que eu entrava. Eu coloria, sublinhava, destacava, saía e voltava pra ver o que as pessoas iam dizer. Super impactante as minhas saídas, não?


Eu não aderi ao ICQ, aquele barulho de débil-mental-quando-faz-besteira me irritava. O MSN eu fiz por fazer, mas o forte era mIRC mesmo. O povo não gosta muito de ser discreto. Não é todo dia que se tem assunto pra ficar somente jogando conversa fora no mIRC.


Surgiu o Blog, seu diário virtual. Todo mundo tinha um e contava tudo sobre o seu dia. Sobre a briga com o namorado e a balada do final de semana. Brasileiro gosta mesmo é de ver as figurinhas do livro. Ficou comum o Blog virar uma terapia e o pessoal se estendia absurdamente em seus relatos, o que tornou a visita aos Blogs algo maçante. Tenho a sensação de ser uma professora de história relatando aqui a evolução da falta de privacidade virtual, mas calma que eu ainda não cheguei no Orkut e quando chegar deixo de ser professora de história tornando-me administradora da vida alheia.


Prosseguindo, veio a febre de câmeras digitas. Os Blogs ficam muito pesados quando têm imagens e não era todo mundo que sabia configurar a foto de maneira que fique alinhada com o layout do Blog. Eis que veio o Fotolog. A idéia devia ser proporcionar aos usuários a oportunidade de compartilhar seus álbuns de fotos com os amigos, mas como recém estava se saindo da era “Diário Virtual” as fotos viraram adornos para a longa descrição do dia de cada um. É diferente você escrever uma série de vagos pensamentos num diário sem rosto do que expor a sua imagem numa página mais pública que banheiro de estação. Com isso vieram as fraudes, as edições de imagens, o uso inapropriado do espaço e tudo isso que a gente sabe que acontece com quem se expõe. Foram surgindo “ídolos”, e eram “ídolos” não pelo que faziam, pelo que tinham ou pelo que pensavam. Eram ídolos pelo que conseguiam mostrar. Até tive meus quinze minutos de sucesso na Internet. Com a internet aprendi muito sobre mim, principalmente que eu sou totalmente intolerante com erros de português do tipo “siúme” e “deicha”. E não ponha a culpa na Internet, isso se aprende na escola.


Explodindo de sucesso o Fotolog ficou sobrecarregado e incapaz de suportar a quantidade de usuários que queriam fazer parte do grupo. Eis que alguém tem a esplendorosa idéia de criar um lugar aonde você deixa recados pra pessoa, um lugar com um álbum de fotos fixo e mutável, comunidades que viraram rótulos do que você é e um numero limite de pessoas que você pode ter como “amigo”. Do Fotolog se herdou a ambição por numero de gente deixando recados, o álbum de fotos virou um falso cartão de visitas, as comunidades passam a ser um selo colado na sua página e você não tem amigos, você tem um numero grande de pessoas agregado à sua página pessoal.


Briga de namoro agora é por causa de recados no Orkut, prova de amor é botar uma foto da pessoa no seu álbum, ciúme é por conta da foto bonita na lista de amigos e separação é uma série de comunidades dizendo que agora você ta disponível. Sabe como é, quando se termina namoro hoje em dia a primeira coisa que se faz é ver a repercussão disso na rede. A opção “estado civil” oscila mais que dólar em crise do Petróleo e você perde mais tempo nisso do que perderia pra ligar pra um amigo e marcar alguma coisa “saudável”.


Claro que existem as vantagens. Você não perde contato com pessoas que infelizmente não tem mais proximidade, reencontra muita gente, muita gente mesmo e ganha depoimentos de amigos que geralmente emocionam de verdade. É um preço muito caro que se paga, mas estamos todos ligados a isso e será cada vez mais forte essa necessidade de consumir o nosso tempo com o tempo alheio, quem sabe. Esses pensamentos não são exclusividade minha, muitas pessoas abominam esse mundo paralelo e falsamente real. Muitas pessoas usam isso de modo natural, tem gente que sabe fazer o que importa e ir embora, mas pras pessoas que se enroscaram nesse mar que navega pra lugar nenhum, passa a não existir vida e morte e sim dois modos: On-Line e Off Line.

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